sexta-feira, 7 de maio de 2010

Melhor assim...


Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim,
quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer,
lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia —
qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê.
Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido...


(Caio Fernando de Abreu)

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